Está cada vez mais evidente que o movimento mais moderno, chic, tendência, chuva de likes – e por que não dizer, eleitoreiro – que um político pode fazer no momento pós-pandemia é investir em ciclovias. Seguindo o exemplo de Anne Hidalgo, prefeita de Paris, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou na noite do dia 27 um plano para cobrir a Inglaterra com milhares e milhares de quilômetros de ciclovias.
Mas para ganhar acesso aos 20 bilhões de libras que o governo britânico está oferecendo (você leu certo: bilhões com B mesmo) não basta passar uma tintazinha em forma de bike no chão e mandar o ciclista desmontar quando for atravessar a faixa de pedestres. O projeto, chamado Gear Change (“Mudança de Marcha”, em tradução livre) vem com orientações bem específicas sobre como a estrutura cicloviária deve ser construída. Algumas instruções dadas para a construção dessas novas ciclovias, e que poderiam muito bem ser aplicadas também por aqui, são:
- Os ciclistas devem ficar fisicamente separados de veículos motorizados;
- Bicicletas devem ser tratadas como veículos e ficarem separadas de pedestres;
- Os trajetos devem ser os mais diretos o possível – deve-se evitar rotas tortuosas e zigue-zagues;
- Ciclovias devem conectar-se entre si: de nada adianta uma ciclovia isolada, mesmo que de boa qualidade;
- Ciclovias devem receber manutenção constante;
- As rotas para bicicletas devem ser sinalizadas de maneira a serem compreensíveis por todes – e por todes entende-se ciclistas, pedestres e até motoristas;
- Não se deve adotar medidas que forcem ciclistas a descer da bicicleta;
- Deve-se oferecer bicicletários e outras estruturas para se prender as bicicletas aos montes.
- A malha cicloviária deve ser concebida por pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte.
Recém-recuperado de seu encontro com o coronavírus, Boris Johnson fez questão de frisar que o projeto faz parte do plano para tornar a população do Reino Unido mais saudável como um todo.
Mas os incentivos à mobilidade ativa no Gear Change vão além da construção de ciclovias. O plano também vai estimular a compra de bicicletas elétricas, promover aulas para ensinar crianças e adultos a andar de bicicleta, e integrar o tranporte de trem e de ônibus com as bikes.
Além disso, o governo britânico também pretende que as cidades criem bairros em que se dará prioridade absoluta a pedestres e bicicletas, batizadas de “Mini-Holandas”. Eles também estão à procura de uma cidade de pequeno ou médio porte, disposta a se tornar o primeiro município com emissão zero de carbono, apoiada em uma frota de ônibus elétricos, transporte quase totalmente ativo e proibição quase total de veículos movidos a combustíveis fósseis.
O primeiro-ministro britânico estende assim uma tendência que já se revela em toda Europa – como os investimentos maciços em ciclovias feitos em Roma, Lisboa, Barcelona e Bolonha, entre outras cidades, atestam. Fino do fino. A primeira-dama Bia Dória, que adora umas coisas bem importadas, podia propor que o governador seu marido implantasse essas propostas elegantésimas por aqui também. 😉